Homenagem a Jaime Gralheiro, homem de palco

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12 de Dezembro, 2019

No DIA MUNDIAL DO TEATRO, a 27 de Março, a Editora Edições Esgotadas e a FNAC Viseu, em parceria, promoveram uma homenagem ao dramaturgo Jaime Gralheiro, que nos deixou em Junho de 2014. Apenas dois meses depois de ter sido distinguido pela Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, no dia 25 de Abril, com a atribuição do seu nome ao Cineteatro local, que passou a chamar-se, com toda a justiça, “ Cineteatro Jaime Gralheiro”. Com a presença de altas Figuras das Letras, das Ciências, das Artes, do Direito, da Política Portuguesa. Mas também do Povo anónimo, à defesa de cujas causas J. G. votou o maior entusiasmo e toda a generosidade dos seus ideais. Fora a última das muitas homenagens que lhe fizeram em vida. Agora, em Viseu e a propósito desta celebração mundial, o dramaturgo foi recordado por um grande e emocionado grupo de familiares, amigos e admiradores, de todas as áreas do conhecimento. Como Homem Ímpar, que dedicou uma vida inteira ao TEATRO. Em ambiente intimista, lembranças e memórias ainda frescas de alguém que passara pela vida de quase todos os presentes, deixando-lhes a marca da sua personalidade. A grandeza da sua dimensão enquanto Homem. Advogado, político,escritor, dramaturgo, encenador, actor. Pai e avô, irmão e amigo leal. Partilharam-se episódios, saborearam-se palavras e expressões. Trouxeram-se afectos de onde sobressaíam a admiração, o respeito, o orgulho. Lembraram-se audiências em tribunal, muito concorridas, com a finalidade de poderem vê-lo e ouvi-lo. Porque a sua presença era sempre uma FESTA. Principalmente, se na defesa, tantas vezes difícil, dos seus clientes. Principalmente, se a questão implicava muitos intervenientes emaranhados na trama. Porque, nesse caso, o advogado transformava-se no dramaturgo-actor, levando ao rubro a sala de audiências. Não porque a “peça” fosse uma qualquer pantomina. Antes porque a vivacidade das suas intervenções eram bem capazes de transformar o espaço num palco, por onde desfilariam as várias personagens, impondo-se pela verdade, pela coerência e pela força dos seus argumentos. Esgotado o tempo de uma brilhante carreira profissional, a total dedicação ao TEATRO, sua paixão maior. Que exerceu em todos os palcos da vida. Onde sempre foi Protagonista e Cabeça de Cartaz. A sua Obra dramática foi várias vezes premiada e Jaime Gralheiro, segundo a Sociedade Portuguesa de Autores, considerado, em 1978, “o autor português mais representado do ano”. Quer por companhias profissionais, quer por amadoras. Dentre uma Obra escrita, onde consta poesia, ficção, evocação histórica e memórias, direito e História local,em dezenas de títulos, destaque para a Obra dramática, parte da qual estudada em universidades estrangeiras. “ Feia”, “ Paredes Nuas”, “ Belchior”, “ Ramos Partidos”, “ Farruncha”, “ O Fosso”, “Na Barca com Mestre Gil”, “ Arraia Miúda”, “ O Homem da Bicicleta”, “ Onde Vaz, Luís? “, “O Grande Circo Ibérico”, “ O Carteiro de Pablo Neruda”, “ Dois em Uma” e “ Deitadas no Passado” são alguns dos livros que fazem parte dessa extensa Obra. Lê-lo e continuar a representá-lo será, sem dúvida, a melhor maneira de o recordar. Por mim, lembrarei sempre, nele, o sorriso de nosso Pai. Sorriso feito palavra e sentimento. Feito saudade e memória. O meu aplauso, para o herói de um palco onde o vi pela última vez há menos de um ano. Aplauso feito gratidão, pelo abraço que sempre me abriu. OBRIGADA, meu irmão!!!

Aurora Simões de Matos

(artigo publicado no jornal Notícias de Castro Daire – edição de 10 de abril de 2015)