Entrevista a Teresa Adão, diretora da editora – Jornal do Centro
“Uma década de Edições Esgotadas
É a única editora em Viseu e está quase a celebrar dez anos. A Edições Esgotadas abriu em 2010. “Começou por uma paixão pelos livros. Fui professora de Português durante 40 anos”, começa por contar Teresa Adão, diretora. Na altura, juntou-se a uma professora universitária, uma designer e um empresário e, assim, formaram uma editora.
Para a antiga professora de Português há duas fortes razões para o projeto continuar vivo num panorama nacional em que, constantemente, abrem e fecham editoras. “Há dois segredos… o primeiro é todos gostarmos muito do que fazemos e pôr em cada projeto o máximo que podemos de nós e tratar desse projeto como se fosse o único; depois, no principio ninguém vivia da editora. Era um processo mais para nos dar prazer do que lucro. Creio que são estas razões que levaram a editora a singrar”, revela.
A diretora da Edições Esgotadas acredita que, conforme o tempo passou, o público, os autores e leitores perceberam que a editora marcava pela diferença, pois o projeto cresceu baseado em “qualidade, honestidade e máxima transparência”, explica.
Hoje a editora tem uma projeção não só nacional, como internacional. “Temos livros distribuídos no Brasil, Espanha e Itália. Apesar de todos estes constrangimentos (Covid-19) só estivemos duas semanas impossibilitados de enviar os livros para Itália e já estamos, novamente, a cumprir as encomendas que chegam do país”, remata Teresa Adão.
Quando questionada sobre a desvalorização do papel e eventual perda em Portugal, dando lugar aos eBooks, Teresa Adão é rápida a dizer que não acredita que isso irá acontecer. “Nós editamos eBooks, já de há alguns anos a esta parte, e trabalhamos a nível internacional. Os eBooks são em língua portuguesa e vendem-se mais no Brasil e depois noutros países por causa de emigrantes. Em Portugal vende-se muito pouco eBook. Acho que as pessoas continuam a valorizar o livro em papel e não estão muito habituadas a esse mundo”, justifica.
Mesmo durante a quarentena, a diretora da Edições Esgotadas afirma que não se vende mais eBooks e não tem havido grande quebra nas vendas. “As livrarias estão fechadas, mas continuamos a vender online o livro físico na nossa página, Amazon e Wook”, esclarece.
Como se publica um livro e quem o faz
“Primeiro é preciso alguém ter alguma coisa para dizer”, atenta Teresa Adão.
O autor tem de submeter o livro na página da Edições Esgotadas. Depois disso, a nossa comissão científica da editora analisa o livro, vê se tem qualidade ou se pode indicar ao autor alguma alteração de forma a que seja aproveitado. “Quando é reprovado, o autor recebe uma comunicação da comissão científica a dizer quais as razões. A mesma coisa se for aprovado”, explica a diretora.
Em seguida, a direção analisa o livro e a comissão científica indica para que coleção irá. “A direção debruça sobre o livro, quais são as características, que tipo de papel fica bem, como se faz a capa, as tiragens… depois trabalha-se isso com os autores. O departamento de design faz a paginação do livro. Mandamos as provas para o autor, para ver se há alguma coisa a corrigir. Depois faz-se uma revisão ao livro no que diz respeito ao texto. Antes de entrar na gráfica faz-se nova revisão”, conta detalhadamente Teresa Adão.
O investimento feito na publicação de um livro depende, sempre, dos projetos. “Quando pedimos a determinados autores que nos possam ajudar a partilhar o risco, até à data nunca tivemos nenhum autor que ficasse com o risco na mão. Até aqui aqueles livros que os autores nos ajudavam são os primeiros a vender, por exemplo, nas apresentações”, explica. “Agora temos de rever essa estratégia porque as apresentações presenciais não podem acontecer”, adianta.
O público que mais se propõe a escrever um livro não é, de todo, o jovem. “Não quer dizer que não tenhamos jovens, mas é mais pessoas que já têm um percurso de vida mais maduro e se sentem mais motivadas para comunicar uma mensagem”, diz a antiga professora de Português. “A primeira avaliação que a nossa comissão científica faz é no sentido de perceber a mensagem que traz o livro. Estar a editar um livro só por ser mais um, é enganar o próprio autor”, acrescenta.
Devido ao confinamento consequente da Covid-19, Teresa Adão afirma que têm chegado mais propostas de livros. “As pessoas estão em casa e a aproveitar para escrever ou acabar o livro que já estava na gaveta”, explica.
A maioria dos autores são portugueses. Ainda que já tenham feito publicações de autores brasileiros, o grande objetivo da Edições Esgotadas é “levar os nossos livros para o mundo”.
Os prémios literários
Há outra componente integrante da Edições Esgotadas que são os prémios literários.
O concurso “Prémio de Poesia Judith Teixeira”, em parceria com a Câmara Municipal de Viseu, tem como intuito ajudar na “divulgação nacional e internacional desta poeta tão nossa e tão esquecida… os brasileiros dedicavam-se mais a ela do que nós”, refere Teresa Adão.
O prémio visa galardoar, de dois em dois anos, uma obra de poesia escrita em português que homenageie a escritora que nasceu em Viseu em 1880.
Há outro prémio em parceria com a Câmara Municipal da Moita, “Joaquim Pessoa”, esse já vai na terceira edição.
“Os prémios são ótimas maneiras de incentivar as pessoas a produzir”, conclui Teresa Adão.”
(Jornal do Centro, 25 de abril de 2020, publicada em https://www.jornaldocentro.pt/online/cultura/uma-decada-de-?fbclid=IwAR1goljACObhXF91PVcZCMOwsOumoAiYnmYNs69bufSIU8_6el7t6a2NkoM)