Escritas da Pandemia com caneta e pincel

Assim é “Escritas da Pandemia com Caneta e Pincel” – um bloco de sensações conjugadas em tempo presente, com essa fagulha de vida que estala na experiência única de cada encontro. Uma imagem projetada na tela jamais será substituta para a experiência com a obra de arte. E essa experiência, produzida pela obra e concretizada no momento de encontro com o seu autor, não pode furtar-se de travar um embate com o tempo presente, com todos os seus medos e impasses, as suas angústias e aflições.
Os Bichos de Lygia Clark, atentos e desafiadores, estão sempre na iminência do próximo movimento e o Ícaro de Matisse não cansa de nos emocionar, enquanto despenca do céu, no meio das estrelas, sem nunca tocar o chão. A Olympia de Édouard Manet ainda nos fita com o seu olhar meio insolente, do mesmo modo como tem feito com cada espectador que se coloca diante da sua tela-morada.
O prazer experimentado junto a Marcel Proust no seu relato da experiência com uma simples xícara de chá e um bolinho em formato de concha estão presentes naquelas mesmas páginas de Em busca do tempo perdido.
É importante fazer uma distinção entre linguagens: a escrita e a pintura – a autora fá-lo esplendorosamente:
“Por razões que não consigo explicar, a escrita, desde o primeiro texto, passou a ser insuficiente e precisou de ter associada uma imagem. Uma imagem que não seja uma ilustração, que não seja uma representação do que as palavras contam, mas que fale por si, enquanto água e pigmentos sobre papel, equilíbrio ou estética, suavidade ou rudeza”.

Ana Maria Oliveira
Editora